Na quarta onda da pandemia do coronavírus SARS-CoV-2 no Brasil, é comum escutar casos de pessoas que estavam com sintomas — como tosse, febre e nariz escorrendo — e fizeram o teste rápido, mas, em um primeiro momento, obtiveram um resultado negativo. Passados um ou dois dias, ao repetir o exame, o resultado confirma a infecção.
Existem muitas explicações para o possível desencontro entre a infecção pelo vírus e o resultado negativo do teste. Este tipo de reclamação é mais comum entre aqueles que usam o autoteste ou teste rápido, também conhecido como teste de antígeno.
Por que o teste da covid dá resultado negativo?
A principal forma de evitar o falso negativo é realizar a testagem no período ideal, que é entre o terceiro e o quinto dia dos sintomas da covid-19, segundo especialistas. Em outras palavras, não adiantar ter o primeiro sintoma e ir correndo testar, porque, muito provavelmente, a infecção não vai ser apontada pelo autoteste. Isso acontece devido à carga viral estar ainda baixa.
Por causa do tempo necessário do teste, o recomendado é que pessoas com suspeita da covid-19 fiquem em isolamento e, se possível, optem pelo trabalho remoto. Isso porque, mesmo sem o resultado positivo do teste de antígeno, podem transmitir o vírus para outras pessoas saudáveis. O uso de máscaras também é recomendado.
A questão da variante Ômicron
No entanto, o período ideal da testagem não é o único fator que explica o fenômeno apelidado de “positividade atrasada”. Antes da chegada da variante Ômicron, os sintomas da covid-19 só costumavam aparecer no momento em que a quantidade de vírus no organismo atingia o pico, ou seja, o ápice da carga viral. Só que, agora, o comportamento do vírus é outro.
Com a Ômicron, o tempo de incubação do vírus da covid-19 está mais curto e o aparecimento de sintomas mais cedo faz com que a carga viral, nos primeiros dias de infecção, não seja alta o suficiente para ser detectada pelos testes caseiros de antígeno.
“Com isso, há um risco de os testes de antígeno falharem na detecção desses casos, já que não existem partículas suficientes para obter um resultado positivo”, explica o virologista Anderson F. Brito, pesquisador científico do Instituto Todos pela Saúde, para a BBC Brasil.
Nesse sentido, temos que tomar cuidado com a interpretação desses resultados iniciais, até para não criarmos uma falsa sensação de segurança”, acrescenta o pesquisador.
Menor tempo de incubação
Segundo dados da Agência de Segurança em Saúde do Reino Unido, o período de incubação da variante Alfa (B.1.1.7) era de cinco a seis dias. Com a Delta, o intervalo médio foi reduzido para quatro dias. Agora, com a Ômicron e suas sublinhagens, o período é estimado em apenas três dias.
“O que mais vemos em nossos consultórios são pacientes que dizem ter passeado no domingo e já apresentam os sintomas da doença na terça ou na quarta-feira”, comenta a infectologista e virologista Nancy Bellei, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Fonte: BBC