Os candidatos dos sistemas prisional e socioeducativo buscam vaga nas universidades nos dias 9 e 16/1
Uma formação no ensino superior pode abrir portas para novas oportunidades de vida. Por isso, 4.981 pessoas que cumprem sentenças judiciais em Minas Gerais com restrição de liberdade, nos sistemas prisional e socioeducativo – responsável pelo acautelamento de jovens em conflito com a lei – se inscreveram no Exame Nacional do Ensino Médio para Pessoas Privadas de Liberdade (Enem PPL).
Os candidatos que finalizaram o ensino médio poderão utilizar o desempenho no certame como instrumento de acesso à educação superior. Os testes serão aplicados nos próximos domingos (9 e 16/1), nas unidades prisionais e socioeducativas administradas pela Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp).
Sistema prisional
Atualmente, 316 detentos já realizaram o sonho da graduação e cursam o ensino superior de dentro do sistema prisional mineiro. Das 171 unidades participantes no estado, a Penitenciária José Maria Alkimin, em Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), tem o maior número de inscritos, um total de 215. Alexandre Rodrigues, 39 anos, é um dos candidatos.
Ele, que interrompeu os estudos no segundo ano do ensino médio para trabalhar, ainda na adolescência, retornou para a sala de aula dentro da penitenciária e pretende chegar ao ensino superior. “Tenho o sonho de fazer Engenharia Mecânica. Gosto de entender as funcionalidades de um motor e quero me aperfeiçoar. A graduação abre portas para o mercado de trabalho. Eu sou caminhoneiro e, hoje, até para dirigir um caminhão mais novo a pessoa precisa de um curso, porque são muitas as funcionalidades tecnológicas”, compartilha o detento.
Elídio Cachoeira, diretor de atendimento da Penitenciária José Maria Alkimin, conta que, assim como Alexandre, a maioria dos detentos que se inscreveram no exame busca melhoria nas rotinas cotidianas. “É um grupo que está sempre atento às oportunidades de estudo e trabalho e ações como o Enem PPL, quando falamos de humanização e ressocialização, são fundamentais. A participação ativa da família, apoiando a busca, também é muito importante”, observa o diretor.
Sistema socioeducativo
Já no Sistema Socioeducativo de Minas, administrado pela Subsecretaria de Atendimento Socioeducativo (Suase), das 14 unidades participantes, o Centro Socioeducativo de Unaí apresentou o maior número de inscritos: 29 jovens, de um total de 98 inscrições no estado. Vale destacar que apenas os candidatos que ainda cumprirem medida de privação de liberdade nas unidades, na data da prova, poderão participar do Enem PPL, que ocorrerá intramuros.
No Centro Socioeducativo de Ribeirão das Neves, por exemplo, foram nove inscritos em setembro, mas, nos últimos cinco meses, ocorreram dois desligamentos e uma transferência entre os candidatos. Assim, seis farão a prova na unidade. Todos estão no primeiro ou no segundo ano do ensino médio e realizarão a prova apenas como treineiros.
*Paulo Augusto, de 16 anos, é um deles. Ele pretende entender como funciona o exame, para usar de experiência na próxima aplicação, quando finalizar o ensino médio. “Sem faculdade não somos nada. Tenho vontade de fazer uma graduação voltada para o comércio. Já trabalhei vendendo sapatos com meu irmão, na beira da praia. Vendia bastante! Quero me aperfeiçoar na área,” conta o jovem.
Rosângela Medeiros, auxiliar educacional, é a referência pedagógica do Enem PPL no Centro Socioeducativo de Ribeirão das Neves. Ela acredita que o exame é significativo para os adolescentes acautelados, mesmo como treineiros, porque é uma oportunidade de eles entenderem como funciona o caminho para a faculdade. “Eles poderão levar a experiência para a vida. Uma prova específica para as pessoas privadas de liberdade é muito importante. Já tivemos adolescentes aqui que conseguiram ingressar na faculdade por meio do exame” afirma Rosangela.
A prova
No domingo (9/1), primeiro dia do Enem PPL, os candidatos farão as provas de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, Redação e Ciências Humanas e suas Tecnologias. No domingo seguinte (16/1) será a vez dos participantes testarem os conhecimentos em Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Matemática e suas Tecnologias.
As inscrições no Enem PPL foram feitas via internet pelos responsáveis pedagógicos de cada unidade dos sistemas prisional e socioeducativo. Esses técnicos são responsáveis também por conferir os resultados, comunicá-los aos candidatos e encaminhá-los ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e a outros programas de acesso à educação superior. O nível de dificuldade do Enem PPL é o mesmo do Enem tradicional.
*Nome fictício, para preservar a identidade do adolescente; conforme preconiza o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).