O IBGE lança hoje (28) o segundo número do volume 66 da Revista Brasileira de Geografia (RBG).
Em função da realização do Censo 2022 e em comemoração ao bicentenário da Independência do Brasil, a publicação é uma edição especial que, além de três artigos, traz duas entrevistas, uma com o diretor de Geociências do IBGE, Claudio Stenner, e outra com o coordenador do CNEFE, Wolney Cogoy de Menezes, além de uma nova seção intitulada “Seleção RBG” e um conjunto de trabalhos selecionados no II Simpósio Internacional Pan-Americano de Toponímia, realizado entre 17 e 19 de novembro de 2021.
“A edição especial se deve à realização do Censo Demográfico no mesmo ano em que comemoramos os 200 anos da Independência do Brasil, que é o primeiro registro do país enquanto Estado. E é por meio do Censo que a gente se dá conta do que é esse Estado, enxerga as características dessa sociedade”, diz a editora executiva da revista, Maria Lucia Vilarinhos.
O engenheiro Wolney Cogoy de Menezes é responsável pela estruturação do Cadastro Nacional de Endereços para Fins Estatísticos (CNEFE) e já participou de quatro Censos Demográficos em seus mais de 40 anos de trabalho no IBGE. Na entrevista, Wolney analisa os grandes desafios da maior operação estatística do país, as transformações técnicas e o conhecimento acumulado pelo Instituto ao longo de mais de 80 anos de pesquisas no território nacional, além de destacar a importância da capilaridade para a realização do recenseamento.
“Wolney é um profissional que está indo para o quinto Censo. O cadastro de endereços pelo qual ele é responsável é um instrumento vital para as pesquisas e a possibilidade de tornarmos o Censo mais ágil, quando boa parte dele for realizado por meio da Internet. Por isso é fundamental a capilaridade do IBGE para a realização de pesquisas que visam retratar o território e a sociedade de forma fidedigna, em um nível de detalhe que é muito importante também para a gestão da coisa pública”, diz Maria Lucia, que ainda ressalta outros aspectos levantados na entrevista, como as mudanças tecnológicas e a relação delas com as outras pesquisas do Instituto, a exemplo da PNAD Contínua.
O diretor de Geociências, Claudio Stenner, também concedeu uma entrevista à revista. Nela, ele destaca os avanços na montagem da operação do Censo 2022, em especial os relacionados à aplicação dos questionários destinados aos Povos e Comunidades Tradicionais e à criação da Base de Informações sobre os Setores Censitários (BIOS). Essa inovação permite a elaboração de um banco de informações detalhadas acerca das exigências e necessidades no acesso aos setores censitários.
“Desde o ingresso no IBGE, Stenner trabalhou com pesquisas que abrangem todo o país, como a Regiões de Influência das Cidades, tendo a visão do território a nível nacional. Esse ponto de vista é essencial para o trabalho no Censo. Um dos pontos abordados na entrevista é o do questionário especial aplicado aos Povos e Comunidades Tradicionais. Por exemplo, as questões extras abrem no equipamento do recenseador quando ele está em uma área em que há indígenas, mesmo que estejam fora do território legalmente assim delimitado”, diz.
Outro destaque da entrevista é a Pesquisa Urbanística do Entorno dos Domicílios, em que são levantados dados sobre presença de iluminação, arborização, pavimentação de ruas e outros aspectos das áreas urbanas. “No Censo anterior, o Levantamento de Informações Territoriais (LIT) buscava relatar características espaciais dos aglomerados subnormais, como densidade de ocupação e capacidade de circulação da via, enquanto a pesquisa do entorno trazia outros dados, como acesso para cadeirante e existência de calçadas, de outras áreas urbanas. O Censo 2022 vai fazer o levantamento de uma combinação de quesitos dessas duas pesquisas para todas as áreas urbanas do país”, afirma Maria Lucia.
Impactos das ações humanas nos rios são tema de artigo
Além das entrevistas, a revista publica três artigos relacionados às áreas da geografia. O estudo “Estilos fluviais da bacia hidrográfica do Quintandinha (Petrópolis, RJ): aplicação de uma classificação geomorfológica de rios em uma área montanhosa urbana”, dos geógrafos André Souza Pelech (IBGE) e Maria Naíse de Oliveira Peixoto (UFRJ), busca discutir os impactos da urbanização nas características geomorfológicas e funcionamento dos rios. Os dois pesquisadores já haviam publicado, em edição anterior da revista, a respeito do impacto das ações humanas sobre rios em perímetros urbanos.
“Os pesquisadores apresentam o comprometimento do perfil do rio pelos processos de urbanização e como isso afeta as populações. A situação de Petrópolis, que viveu uma tragédia recentemente, é ímpar, mas essa condição se repete em escala menos drástica em outros municípios. Muitas cidades estão sob esse risco”, diz.
Já o trabalho “Metropolização e abastecimento de água no Rio de Janeiro: a mediação dos sistemas técnicos de infraestrutura hídrica”, de Christian Ricardo Ribeiro (UFRJ), aborda o problema dos sistemas técnicos que compõem as redes de abastecimento de água na região metropolitana fluminense. “Esse estudo faz um mapeamento da estrutura das redes de abastecimento de água na região metropolitana do Rio de Janeiro e discute os problemas das áreas de mananciais”, explica.
O estudo “Práticas e interações especiais na expansão da Agricultura Natural do Brasil: a gestão do território da Korin Agropecuária”, de Murilo Henrique Rodrigues de Oliveira e Darlene Aparecida de Oliveira Ferreira, aborda as práticas espaciais e de gestão do território da empresa que está presente em cinco estados concentrados no eixo Centro-Sul do país. Ambos os pesquisadores são da UNESP de Rio Claro (SP).
Há ainda uma seção nova intitulada “Seleção RBG”, em que, a cada quatro anos, um artigo já publicado pela revista será escolhido pela profundidade, abrangência e atualidade da análise geográfica que oferece, de acordo com a visão do conselho editorial da publicação. O primeiro selecionado foi “A mobilidade na Região Metropolitana do Rio de Janeiro e o Transporte Aquaviário: análise a partir dos resultados de deslocamento do Censo 2010”, do geógrafo Gabriel Teixeira Barros. O pesquisador analisou as dinâmicas do Recôncavo da Guanabara em relação aos movimentos de maré e correntes marítimas, ao processo histórico de ocupação urbana e à evolução dos transportes na região, para discutir, a partir dos dados do Censo 2010, a importância do transporte hidroviário na região.
A partir de 26 de maio, a revista vai liberar outra forma de acesso a todo o material publicado em seus números antigos. Essa consulta estará disponível na página da publicação e o usuário poderá pesquisar os artigos divulgados por palavras-chave, nome do autor e título do trabalho. Atualmente, é possível consultar as edições anteriores apenas na íntegra.