Grupo representa quase 86% dos pacientes em leitos públicos de enfermaria e 80% dos que estão nas UTIs em Minas, aponta a SES.
A aceleração dos casos de COVID-19 tem preocupado e lotado vagas destinadas a pacientes com quadros respiratórios nos hospitais. Autoridades, especialistas e os dados mais recentes mostram que a maior parte dos internados não completou o esquema vacinal ou são pessoas acima de 75 anos, ou ainda, têm muitas comorbidades associadas. Números referentes às internações por COVID-19 em Unidades de Terapia Intensiva e leitos clínicos da rede do SUS compilados pela Secretaria de Estado de Saúde ontem confirmam o peso da vacinação para evitar casos graves: 80% dos internados em UTI são não vacinados ou tomaram apenas uma dose de imunizante, mesmo perfil de 85,8% dos que estão recebendo atendimento em enfermarias.
De acordo com os dados, extraídos ontem do Sivep-Gripe, que concentra informações enviadas pelos municípios, dos 437 pacientes internados em leitos SUS de UTI COVID-19, 324 (74,14%) não foram vacinados, 26 (5,97%) tomaram somente uma dose de imunizante e 87 (19,9%) receberam duas injeções ou dose única (Janssen) . Nos leitos de enfermaria, são 2.236 pacientes internados, dos quais 1.750 (78,26%) não tomaram nenhuma dose de imunizante, 144 (6,44%) receberam apenas a primeira e 324 (14,49), duas ou a dose única.
“São pacientes que, na maioria, não estão com a vacinação completa. Ou então está completa, mas muitos são idosos ou com muitas comorbidades”, explica o médico infectologista Estevão Urbano, integrante do Comitê COVID-19 da Prefeitura de Belo Horizonte, com base em suas observações sobre o quadro na capital mineira. A pressão nos hospitais é forte, mas o panorama é diferente do observado em outros picos da pandemia com prazos menores de internação e menos mortes, observa o especialista e instituições de saúde.
Estêvão Urbano observa também que o tempo de internação dos infectados tem sido menor se comparado com os outros picos de contaminação, como em março e abril do ano passado e no início da pandemia, entre abril e junho de 2020. “A gente tem notado que a taxa de mortalidade está menor. A gente está conseguindo salvar mais pessoas do que na primeira onda. Isso pode ser efeito de algum resquício de vacinação ou de um melhor tratamento que aprendemos a fazer com o tempo, mas também eventualmente porque talvez a cepa seja um pouco mais branda”, observa Urbano.
Na Santa Casa
Na terça-feira, a ocupação de leitos da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) na Santa Casa BH, no Bairro Santa Efigênia, ultrapassou o percentual de 97% em virtude do aumento das internações para tratamento de casos respiratórios graves. Ontem, a taxa só caiu devido ao aumento de leitos que foi feito para dar conta dos pacientes com sintomas respiratórios. A enfermaria ficou em 92% num total de 111 leitos (na terça eram 84) e 95% de taxa de ocupação no Centro de Terapia Intensiva (CTI), que dispõe de 40 vagas. A unidade informou que até o fim do dia de ontem mais 10 vagas de enfermaria seriam disponibilizadas.
Quadro na capital
Apesar de ter sido feito num cenário ainda não marcado pelo avanço da Ômicron no mundo – cepa mais transmissível, mas aparentemente menos fatal que as anteriores – o levantamento mais recente da Prefeitura de BH, do fim do ano passado, já mostrava os efeitos da vacinação para conter casos graves. Os dados apontavam que 81% dos internados com COVID-19 em hospitais da Rede SUS e Suplementar (rede particular) não haviam se imunizado contra a doença. Entre os internados vacinados, cerca de 60% haviam tomado apenas uma dose. A análise foi feita cruzando duas bases de dados, onde são registrados casos confirmados, pessoas vacinadas e internações. Foram considerados os dados de janeiro de 2021, quando se iniciou a vacinação na capital, até o final de novembro.
Novos leitos
A Prefeitura de Belo Horizonte abriu, ontem, mais 83 leitos COVID-19 na Rede SUS-BH. Foram ampliados 75 leitos de enfermaria e outros oito de UTI destinados à doença. Ainda assim, a taxa de ocupação total, que inclui as redes SUS e Suplementar, segue no nível vermelho, com 74,5% e 89,1% respectivamente. A Secretaria Municipal de Saúde reforça que pacientes com quadros gripais, ainda sem resultado para a COVID-19, também podem estar internados nos leitos de UTI e Enfermaria dedicados à doença, já que os sintomas são semelhantes.
Eduardo de Menezes
A Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), que administra o Hospital Eduardo de Menezes – instituição pública especializada em infectologia e referência nos casos de coronavírus – não informou o perfil dos pacientes internados. Ontem, a unidade chegou a registar 100% de ocupação de leitos de UTI COVID-19, repetindo o cenário de terça-feira. A enfermaria também tem alta taxa de ocupação: 82%.