Depois de tantos dias usando blusas e cobertores, só agora estamos entrando na estação do inverno.
O pesquisador da Embrapa Daniel Pereira Guimarães, que estuda os efeitos do clima na agricultura, explica que as estações do ano têm início nos seus auges e vão se dissipando até atingir o auge da próxima estação, que nesse caso será a primavera. É como se começasse a festa de aniversário cantando os parabéns. Na verdade, o eixo de rotação da Terra faz movimentos cíclicos durante sua trajetória em torno do sol, e a exposição em relação aos raios solares é que define a estação do ano. Durante o inverno temos a menor incidência de raios solares em nossa região. Por outro lado, nos países da Europa e nos Estados Unidos, que ficam no Hemisfério Norte, está ocorrendo a estação do verão. A chegada do inverno no Hemisfério Sul ocorrerá astronomicamente às 6h14 do dia 21 de junho, e a estação se estenderá até as 22h04 do dia 22 de setembro de 2022, quando se dará o início da primavera. O primeiro dia do inverno será o mais curto do ano em Sete Lagoas, com o nascer do sol às 6h30 e seu poente às 17h27. Essa duração do dia depende da localização geográfica considerada, sendo que em Porto Alegre, que está mais ao sul do País, o dia só começará às 07h20. Enquanto isso, nos países do Hemisfério Norte, acontecerá o início do verão, com os dias muito longos, sendo que em Paris, na França, o sol irá brilhar no céu até as 22h, ou seja, durante mais de 16 horas. Portanto, é verdadeira a história do sol da meia-noite que ocorre nos países próximos às regiões polares, como Canadá, Rússia, Suécia, Finlândia e Noruega, onde por vários meses o sol está sempre presente no céu, durante as 24 horas do dia, no verão, e ocorre uma noite constante durante os meses de inverno. A determinação da data de mudança das estações está relacionada com os solstícios e os equinócios, que são fenômenos astronômicos relativos à posição do Sol em relação à Terra. Durante os solstícios, a incidência dos raios solares em relação à linha do Equador está em inclinação máxima, sendo que o solstício de inverno ocorre quando temos as noites mais longas, e no solstício de verão ocorre a noite mais curta do ano. Já os equinócios ocorrem quando os raios solares incidem diretamente sobre a linha do Equador e determinam o início da primavera e do outono. Muitas construções pré-históricas demarcavam a posição do Sol para a elaboração dos calendários e definição das épocas de plantio no campo.
E o frio?
Além da menor duração do brilho solar durante o inverno, os raios atingem a atmosfera em um ângulo oblíquo, reduzindo o aquecimento da superfície terrestre em relação às outras estações do ano. Podemos então dizer que durante o inverno o sol é mais “fraco”. Essas condições afetam o ciclo hidrológico, uma vez que a evaporação da água fica reduzida, resultando em uma menor formação de nuvens no céu. A ausência de nuvens reduz a proteção contra a perda de calor da Terra para o espaço, provocando as baixas temperaturas nas madrugadas. Essa redução na evaporação das águas tem também o impacto na redução da umidade relativa do ar, o que aumenta a presença de poeira no solo e no ar e resseca as plantas. A baixa umidade também contribui para as queimadas e para o surgimento das doenças relacionadas ao aparelho respiratório. A condensação da água com partículas de poeira, fumaça das queimadas e com outros poluentes atmosféricos provoca o fenômeno da névoa seca que, apesar de contribuir para cenários maravilhosos durante o nascer e o pôr do sol, indica a tendência de perda da qualidade do ar que respiramos. Essas condições prevalecem até a chegada da estação das chuvas, no início do mês de outubro. As estações do ano nos países de clima tropical não são bem definidas como ocorre nas regiões de clima temperado. Durante o outono e nesse início de inverno muitas árvores estão floridas, como os ipês-rosas, a pata-de-vaca e as paineiras.
As previsões
Neste ano, as menores temperaturas registradas em Sete Lagoas ocorreram nos dias 19 e 20 de maio, sendo respectivamente de 3,4 °C e 3,3 °C, e foram causadas pela formação de um ciclone subtropical, que ocasionou uma enorme massa de ar polar que atingiu grande parte do território brasileiro. No dia 13 de junho, foi registrada a menor umidade relativa do ar: 14%.
De acordo com as previsões do modelo Global Forecast System (GFS do NOAA), os próximos 15 dias deverão ser de poucas variações nas temperaturas, que devem ir de 12 °C nas madrugadas até 27 °C no período da tarde. O céu deve permanecer claro e sem nebulosidade e não há possibilidade de chuvas, com a umidade relativa do ar girando em torno de 25% no período da tarde, ou seja, condições de baixa umidade por um período prolongado.
Essas condições atmosféricas são favoráveis ao aumento da incidência de raios ultravioleta (UV), à perda da qualidade do ar em função do aumento de material particulado na atmosfera e a maiores concentrações de monóxido e dióxido de carbono, metano, dióxido de nitrogênio, formaldeídos e metano. Está na hora de começar a dispensar mais cuidados com a pele e evitar a exposição aos raios solares nos períodos mais críticos.
Para complicar a situação, a incidência de queimadas tem aumentado na maior parte do Brasil.
Daniel Pereira Guimarães (Pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo)
Embrapa Milho e Sorgo